Sou apaixonada pelas obras do pintor holandês Johannes Vermeer. Não só pelo claro e escuro, mas pelas cores primárias que ele usa. O cenário intimista do interior de residência holandesa nos leva para o século XVII, onde as cenas do cotidiano nos colocam nos locais e nas situações corriqueiras da época.
No meu ponto de vista, o simples traz mais afetividade e, ao usar as cores primárias com tanto realismo, mostra o quanto Vermeer se utilizava desta ideia. Não é a toa que sua obra mais famosa – A Moça com Brinco de Pérola – mostra apenas o olhar da jovem e quanta coisa esse olhar nos diz!
N’A Leiteira, o amarelo no corpo do vertido e a saia vermelha buscam mostrar o calor da obra, contrastando com o avental azul e as mangas esverdeadas, equilibram todo ambiente doméstico. O leite que a moça despeja na bacia mostra o quão acalentador é este trabalho – traz um cuidado, um zelo, a luz cuidadosamente iluminando sua face. É encantador!
Era muito comum retratar as funcionárias da casa e isso se faz evidente pela touca utilizada por elas nesta época. A importância que elas representavam, para muitos, eram como os reis e rainhas em um período anterior, pois, ao serem “imortalizados” em uma obra, mostrava o valor reconhecido.
Contudo, na obra em questão, sua expressão serena, concentrada em seu afazer, com os pães em cima da pequena mesa, sinaliza o viés religioso que aquela mulher, ou o próprio artista, de forma intencional, transfere ao espectador.
Por mais que a criada esteja servindo, antes de tudo ela é mulher, e a cor vermelha, quase escondida em sua saia, denota o quão forte uma mãe pode - e deve - ser para criar os seus descendentes. Mesmo que não tenha filhos, a intuição está (e sempre estará lá) para defender quem precisar.
E você, esconde sua cor vermelha?
